domingo, 17 de outubro de 2010

PORTADORES DA GRAÇA


Marly já tinha duas filhas, Kátia e Kelen com 20 e 17 anos respectivamente.
Kátia estava preste a se casar então Marly e seu esposo acharam que a casa ficaria vazia de mais.
O casal se inscreveu na vara da infância à procura de uma criança um pouco maior. Alguns meses depois ele chegou.

Ele não era e nunca foi a criança que todos sonharam um dia em ter. Ao olhar para os seus traços já dava pra perceber os olhinhos puxados típico de quem tem síndrome de down.

Gabriel não falava, não andava, tinha problemas de visão e de audição, usava fraldas e se arranhava muito em função do ambiente violento em que vivera. Ele tinha 6 anos e havia sido retirado de casa por sofrer maus-tratos.

Foi amor a primeira vista. Marly e seu esposo o levaram para casa e passaram a cuidar de Gabriel.

Em seu aniversário de sete anos Gabriel ganhou uma festa de aniversário. Ele estava tão feliz que mal podia caber dentro de si.

Hoje, aos 12 anos, é um menino calmo e feliz. Vai à escola – está no 4º ano –, anda, conversa, há tempos se livrou das fraldas, come sozinho, não se machuca mais e conseguiu recuperar uma das vistas.

Achei esta história por acaso enquanto procurava inspiração na internet, e no mesmo instante que a li recebi um banho de empatia por Gabriel.

Uma criança que já nasceu com sua malinha de dificuldades um tanto mais pesada que a das crianças normais. Chegou a um lar que lhe ofereceu como incentivo de vida uma seqüência incontável de traumas e medos.

Fico me perguntando, o que teria acontecido com Gabriel caso Marly não tivesse aparecido?
Afinal de contas Gabriel nunca foi um futuro promissor para a família, Gabriel não era fonte de carinho ou amor. Gabriel era um poço de traumas.

Talvez você ao olhar para um garoto com os traços como os de Gabriel não conseguisse enxergar nada além da cicatrizes e deformações, mas o amor de Marly por ele existiu e tal amor conseguiu ver um coração escondido atrás da carcaça assustada.

As pessoas viam um portador de deficiência Marly via um portador da graça.

Jesus fazia o mesmo com seus seguidores:

O mundo enxergava um coletor de impostos corrupto que não era digno de confiança. Jesus visualizava Mateus, o discípulo que mais tarde contaria sua história. Mateus 9 v9 – Jesus cedia a Mateus a graça de andar lado a lado com o Mestre.

O mundo via uma mulher cheia de marcas de adultério que merecia ser apedrejada. Jesus visualizava uma vida a ser transformada. João 8 – Jesus cedia a mulher a graça de ser salva de seus acusadores.

A sociedade via um cego sem chances de mudanças. Jesus via Bartimeu, alguém que merecia o ver frente a frente. Marcos 10 v46 – Bartimeu recebia de Jesus a graça olhar o rosto de Cristo.

E assim, eu poderia seguir com a interminável lista até chegarmos a você.

Você se lembra da história, não se lembra?

O mundo via suas limitações :
as notas que você não conseguia alcançar,
os amigos que você não conseguia fazer,
os medos que você não conseguia superar,
os vícios que te aprisionavam,
os erros que você cometeu,
os sonhos que você nunca realizou
a lista incontável de motivos que faziam de você alguém sem muitas chances de resgate ...

Mas, pela misericórdia do Pai de amor você teve uma história semelhante a de Gabriel.
Alguém com um amor incondicional achou que seria bom cuidar de você. Este alguém conseguiu transformar sua lama em matéria prima para uma obra de arte.

Assim como Jesus quando escolheu morrer por você, quando Marly escolheu cuidar de alguém como Gabriel ela não estava optando pela solução mais fácil, e sim a mais amável.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.Isaías 53 v5

Considerando que Graça é um favor imerecido, tanto Gabriel quanto nós temos em nossos peitos faixas que dizem “Fui agraciado por um gesto de amor”.

Marly não precisava escolher uma criança com down e Jesus não foi obrigado a dar sua vida para te salvar. Sabemos disso. Ambas atitudes soam como presentes.

Presentes destinados a despertar a duvida : Fizeste isto por mim?
Nesta semana li um texto que despertou em meu coração tal sentimento:


Compreendo a necessidade de sangue.
Seu sacrifício eu abraço.
Mas a esponja amarga, a lança transpassando, o cuspe em seu rosto?
Tinha que ser uma cruz?
Não havia morte mais amável do que seis horas pendurado entre a vida e a morte, tudo isto regado a um beijo de traição?
- Oh Pai, - diz você com o coração tranqüilo,
- Desculpe perguntar, mas preciso saber, fizeste isto por mim?


Se você se esforçar um pouquinho talvez consiga ouvir milhões de pessoas que hoje fazem a mesma pergunta – Jesus, fizeste isto por mim?

Eu, portadora da graça de Cristo, com certeza sou uma delas.

Creio que sendo a pergunta feita por mim ou por Gabriel as respostas seriam muito semelhantes.

Agradeço a Deus por poder ouvir a doce voz que ressoa em meu coração: Fiz tudo isso por você e faria tudo novamente pra poder te ver crescer ao meu lado. Te dei de presente a graça de viver e ser livre.

" Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo." I Coríntios 10 v 15

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